quinta-feira, 19 de maio de 2011

O Vampiro na literatura dos séculos XVIII e XIX – cont.

Continuando a publicação do artigo "O VAMPIRO LITERÁRIO DO SÉCULO XVIII AO XIX", feito por mim na Faculdade de História que estou fazendo na Saberes, coloco mais algumas partes. Se não viu as partes anteriores, então leia as duas anteriores aqui e aqui. Boa leitura!


3 O VAMPIRO LITERÁRIO DO SÉCULO XVIII AO XIX


2.2 De Coleridge a Stoker

A literatura vampírica chegou à Inglaterra em meados do século XVIII com poemas escritos por Goethe, Bürger e Tieck, mas só tornou-se parte da literatura inglesa quando

Samuel Taylor Coleridge escreveu o poema Christabel. No poema, escrito em 1816, ele nos apresentava Geraldine, uma vampira apaixonada pela personagem-título.

A aceitação de que o texto pudesse ter referências vampíricas só veio no século XX, graças a Arthur H. Nethercot, que

percebera nas características de Geraldine semelhanças com seres

vampirescos.

O poema Christabel também tem certo destaque pela retratação da relação lésbica das duas mulheres, sendo a primeira citação em toda a história literária dos vampiros.

2.2.1 Lord Ruthven

Como o poema Christabel gerava dúvidas se era ou não um poema relacionado a vampiros (esta dúvida somente seria esclarecida em 1930, pelo crítico literário Arthur H. Nethercot), algumas das mentes inglesas mais sapientes decidiram se reunir em Genebra, no ano de 1816, para criar suas próprias histórias de monstros.

O encontro aconteceu pelo acaso da viagem do lorde inglês George Gordon Byron.

Lord Byron, como é mais conhecido, se tornara um nobre inglês após o falecimento de um tio-avô, herdando assim o título e todos

os bens da família. Em 1813, Byron fez sua primeira aventura no

universo vampiresco com o poema The Giaour. Apesar de antecessor ao poema de Coleridge, Byron nunca reivindicou tal posição. O impressionante no poema é o conhecimento de Byron quanto à mitologia vampírica grega, tornando o personagem-título, o giaour (um marginal da fé cristã), em um vrykolaka, um não-morto que volta

para atormentar a família, bebendo do sangue deles.

Este foi o primeiro de vários poemas escritos por Byron acerca do tema, mas o texto que viria a ser o primeiro conto de vampiros na história da literatura mundial, só ocorreu após sua separação.

Em 1816, Byron iniciou uma viagem excursionaria pela Europa, ao lado do jovem médico John Polidori. Esse era pouco conhecido do mundo literário, pois sua única aventura nesse meio havia sido uma tese sobre o pesadelo. Na cidade sueca, Byron e Polidori receberam o casal Percy Bysshe Shelley e Mary Wollstonecraft Goldwin, e a irmã adotiva dessa, Claire Mary Jane Clairmont, e em uma noite chuvosa, decidem escrever contos fantasmagóricos. Para incentivar a mente de seus parceiros, Byron lê alguns contos do escritor alemão de ficção gótica, Ernst Theodor Wilhelm Hoffman.

Durante dois dias eles desenvolveram histórias dos mais diversificados tipos, sendo que, a história da jovem Mary, com 19 anos na época, fora a única que se tornara um best-seller, conhecido com Frankenstein, or The Modern Prometheus, que fora publicado em 1818, quando ela já se chamava Mary Shelley.

Byron teve sua colaboração contando a história de dois amigos que viajam a Grécia, aonde um deles vem a ser atacado e morto. Prometendo não contar sobre a morte de seu parceiro de viagem, o sobrevivente retorna a Inglaterra e depara-se com seu comparsa vivo e tendo um caso com sua irmã. O próprio escritor não dera muita relevância à história, mas seu amigo, o médico John Polidori gostara tanto, que anotara tudo.

Meses depois do encontro, Polidori seguira para a Inglaterra enquanto Byron continuou sua viagem. Quando esse retorna, em maio de 1819, encontra uma nota no jornal New Monthly Maganize com o título The Vampyre e colocando-o como autor. Mal sabia ele que o verdadeiro escritor era seu antigo companheiro de viagem, John

Polidori.

Quando retornara a Inglaterra, o jovem médico, que sonhava em ser um escritor, decidiu usar das anotações que fizera da história de Byron e desenvolveu o conto do jovem Aubrey. Um rapaz abastado, mas ingênuo que conhece Lorde Ruthven, e o acompanha em uma viagem pela Europa. Durante a viagem, Aubrey conhece outra faceta de Ruthven, de jogador e agiota, então decide se separar dele e seguir sozinho para a Grécia. Ao chegar ao país helênico conhece uma jovem que relata sobre o vampiro, um ser poderoso que é capaz das mais terríveis artimanhas. Os dois iniciam um romance, quando chega Ruthven. Dias depois da chegada do lorde, a jovem grega morre atacada por um vampiro. Sem

fazer ligação aos fatos, Aubrey aceita a mão amiga de Ruthven e ambos continuam a viagem juntos, mas numa noite de lua cheia, são atacados por ladrões e o lorde é morto. Antes de vir a falecer, pede a Aubrey que nunca revele a ninguém sobre sua morte. Sustentando a promessa, ele retorna à Inglaterra, aonde encontra sua irmã noiva de certo Conde Masden. Quando vai conhecer o conde, descobre que este é ninguém menos que Ruthven, mas por causa de sua promessa, nada pode revelar. Tenta impedir a união de ambos, mas não consegue e a irmã de Aubrey termina morta e Ruthven desaparece.

O conto ganhou fama na Europa, principalmente na Alemanha, aonde fora elogiado pelo romancista Goethe e na França, virando a peça Le Vampire, de Charles Nodier, em 1820. Ainda no país germânico, a obra virou uma ópera, intitulada Der Vampyr, de Henrich August Marschner, em 1829. Toda a fama era devido à suposta autoria de Byron, que conseguira sobre muita persistência que não lhe dessem a autoria pela obra, ainda mais por Polidori ter sido audaz em usar o nome Lorde Ruthven, no qual a ex-namorada de Byron, Lady Caroline Lamb, havia usado em seu livro intitulado Glenarvon, publicado em 1816, fazendo referência ao nobre escritor.

Byron, após este episódio, nunca mais mencionou vampiros em seus poemas ou contos, mas as mudanças já haviam acontecido e iniciado um enorme movimento literário sobre o assunto.


2.2.2 Um adendo

Com o sucesso do conto The Vampyre em toda a Europa, surgiram várias obras semelhantes, mas com a diferença de que o

vampiro não se dava bem no final, ao contrário de Ruthven, que assassinara a irmã de Aubrey e fugira, impune. Lógico que na peça de Nodier, Le Vampire, ele não saía impune, mas arcava com as consequências de seus atos. Em 1852 foi à vez de Alexandre Dumas, famoso romancista, levar Lord Ruthven aos palcos da França. Infelizmente, o verdadeiro criador da obra, John Polidori, não viveu muito para ver o sucesso de The Vampyre, pois se suicidara em 1821, dois anos depois de lançar o conto. Mas as crias surgiram anos depois. Entre eles, o que ganhou mais destaque foi Varney, de James Malcolm Rymer.

Rymer escreveu Varney, The Vampire: or, The Feast of Blood em 109 capítulos em 1840 e no mesmo ano, a obra virou um romance de 868 páginas. A crença daqueles que leram a obra era de que Rymer decidira fazer uma reimpressão mais extensa de The Vampyre, de John Polidori, pois todas as opiniões do escritor

encontravam-se naquele novo trabalho. Houve muitas confusões em referência a autoria da obra, tanto que o vampirólogo Montague Summers a atribuiu a Thomas P. Prest, autor da obra Sweeney Todd.

Depois da publicação de Varney, The Vampire, somente em 1870 que o escritor e explorador Richard Francis Burton viria a escrever Vikram and the Vampire. O romance era a primeira menção do mito vampírico relacionado à Ásia. Nele o autor se usa das lendas do Rei Vikram, uma figura real indiana que se tornou um gigante mitológico. A história se inicia quando o rei é enganado por um iogue, um tipo de místico indiano, que o convence a passar uma noite no local da cremação e no outro dia lhe pede para seguir por mais uns seis quilômetros ao sul e trazer um corpo que estaria pendurado nos galhos de uma mimosa, o corpo é de um betail, o vampiro hindu. Vikram demora a convencê-lo, mas quando acontece, durante o caminho de volta, o betail lhe conta várias histórias. Quando ambos chegam ao local da cremação, encontram o iogue convocando Kali. Em uma batalha homérica contra os mais diversos seres demoníacos indianos como rakshasas e bhutas, outros exemplo de vampiros hindus, Vikram mata o iogue e ganha dos deuses a fama que ostentou entre seu povo. A história publicada por Burton era parte do livro The Vetala-Pachisi, um tipo de Mil e Uma Noites indiano.

Anos depois, mais exatamente em 1872, na coletânea Glass Darkly, Joseph Thomas Sheridan Le Fanu publicou Carmilla.

Carmilla fora considerado o terceiro romance sobre um vampiro na literatura inglesa, já que o livro de Burton era uma republicação de um clássico indiano. O termo vampiro não cabe bem a personagem, que era uma mulher, mas que retomava o mesmo conceito criado pelo poeta Samuel Taylor Coleridge, ou melhor, de uma vampira lésbica.

A história de Carmilla é contada por Laura, desejo da personagem-título. Ela é filha de um funcionário público aposentado que adquiri um castelo em uma região rural da Estíria, na Áustria, onde os dois residem. A primeira aparição da vampira aconteceu quando a jovem tem seis anos e adormece nos braços de sua algoz, sentindo duas agulhas finas penetrarem no seu peito, ela grita, fazendo Carmilla desaparecer embaixo da cama. Quando a babá e a criada chegam ao quarto, não veem nada. Quando Laura completa 19 anos, Carmilla reaparece após um acidente convencional. A mãe dela a deixa no castelo, pois deseja chegar rápido ao destino de ambas. Quando a vampira e sua vítima se reencontram, ela é logo reconhecida, mesmo após treze anos. O que mais impressiona Laura é a semelhança de Carmilla com a Condessa Mircalla Karnstein, de quem Laura é descendente pelo seu lado materno.

Neste ínterim, chega ao castelo o General Spilsdorf, amigo do pai de Laura, para contar sobre a morte de sua filha, que morrera de causa desconhecida, por isso desconfiavam que tivesse sido um vampiro. O general foi cético quanto ao fato então permaneceu em tocaia no quarto da filha, quando viu a vampira conhecida como Mircalla adentrar novamente no aposento, Ele tentou matá-la com a espada, mas ela fugira. Ao fim do relato, Carmilla entra no aposento onde se encontram Laura, seu pai e Spilsdorf, esse a reconhece e antes de conseguir ferí-la, ela escapa novamente. Eles então a rastreiam até o Castelo dos Karnstein e encontram seu túmulo flutuando em sangue e seu corpo jovial. Providenciam então uma estaca em seu tórax, fazendo soltar um grito estridente, depois a decapitam, queimam seus restos e desfazem das cinzas no vento.

Nessa resumida interpretação do conto de Le Fanu, podemos ver como as formas de agir do vampiro viria a influenciar o mais célebre dos romances sobre vampiros, tanto na antiguidade como nos dias atuais, Drácula.

2 comentários:

lisbet disse...

pues me agrado mucho tu blog espero y segas publicando cosas parecidas

Sestro Masden disse...

Estoy muy agradecido por tu apreciación. Pronto la conclusión de la entrada y poner las cosas nuevas.

_Sestro Marsden